quinta-feira, 13 de junho de 2013
Cobertores imóveis.
Pessoas
vazias são cheias. Cheias de descaso, de olhares julgadores e grama do
vizinho. São cheias de seus narizes, de seus mundos próprios, onde
ninguém entra, não senhor. Cheias de verdades, de espelhos generosos, de
intolerâncias rabugentas. Eu demais e o outro de menos. Pessoas vazias
são cheias de amor próprio, tão cheias que não sobra espaço para a
acolhida do amor alheio. Cheias de faços, possos
e causos. Sobra alegoria e falta samba-enredo. São autobiográficas,
automáticas, autossuficientes, autolimpantes. Muitos fins e poucos
meios. Muito teto e pouco chão. Sobra sombra e falta rouge. Pessoas
vazias são cheias de nove horas, de noves fora, de quero agora - não
demora! Cheias de uma sabedoria que não permite falhas, de repúdio às
críticas amigas, de domingos sem companhia, de cobertores imóveis e
tapetes ágeis. São cheias de decibéis e pobres em sussuros, cheias de
primeira pessoa, de discursos sem contexto e presenças deslocadas. Muito
senhorio e pouco aluguel. Cheias de umbigo e carentes de coração.
Sobram dedos apontados e faltam mãos para amparar. Pessoas vazias são
cheias, sim. Cheias de vazio.
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